Daniel exitou. Era natural que exitasse em revelar para o padre, afinal depois que desse detalhes de sua confissão o padre seria mais um na lista para uma eventual queima de provas.
Para o padre, seria apenas mais uma confissão, talvez dormisse durante a conversa, só acordando para receitar a penitencia, afinal para que serve a confissão senão como desabafo, uma forma simples de por "pra fora" tudo aquilo que atormenta a alma das pessoas?
O padre não sabia que seu destino depois daquela confissão pudesse estar atrelado ao destino de seu confitente.
- Antes de vir para cá... que o senhor me acolheu...
Daniel por um instnte parou e sentiu um nó na garganta, por um instante passou por seus pensamentos que não devia contar ao padre nada do que sabia. Mas o padre o admoestou a continuar - Diga meu filho, o que o atormenta tanto?
Daniel se levantou do confessionario, mas o padre respeitando seu tempo, o aguardou pacientemente.
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Daniel voltou, ajoelhou-se, cruzou os dedos e apoiou a testa sobre os dedos cruzados. Sentiu que o suor escorria pela sua face e o coração estava acelerado. Sua voz embargada não permitia que falasse claramente e nitidamente, mas esforçando-se por seu breve o objetivo falou:
Aquela familia morta na favela, na casa que me acolheu, eu estava lá quando foram assassinadas...
O padre permaneceu em silêncio, durante os segundos seguintes enquanto Daniel também silenciou. Em seguida voltou a falar:
- Creio que não fosse bom eu revelar detalhes ao senhor. Se ficar sabendo de tudo, e possível que sua vida corra perigo assim como sinto que corre a minha...!
- Não tema filho, a morte para mim não é tãoestranha como é para as pessoas que vivem fora da ingreja. Se eu tiver que morrer por causa de uma confissão será a vontade de Deus, e contra a vontade de Deus, nada posso fazer!
- Um dos fieis desta igreja, o que mais contribui materialmente, é o chefe de uma organização voltada para o tráfico de drogas nesta cidade...!
- Seu patrão? - Indagou o padre.
- Sim!
- Até o dinheiro sujo é bem vindo quando no final tem um proposito maior e salutar. O dinheiro de suas polpudas contribuições é destinado a alimentar familias carentes de nossa comunidade. Quanto ao destino dado a esse dinheiro, temos controle, já quanto aos meios como esse filho de Deus, desgarrado, os obtem nada podemos fazer, senão esperar que as autoridades cumpram o que lhes compete!
- O senhor poderia denuncia-lo?
- Não! a menos que me disse o que está me dizendo fora do confessionário!
Então Daniel mais uma vez exitou em prosseguir. Nada mais diria, não ali no confessionário. Levantou-se e disse que sua confissão estava encerrada.
O padre não insistiu, afinal a confissão é um ato livre, não devendo ser induzida ou forçada de algum modo. Ambos sairam da igreja, sem trocar uma palavra um com o outro até quando chegaram em casa.
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O texto acima foi escrito hoje 17 de agosto de 2013 e terminado as 17:52hs digitado diretamente na pagina deste site, e ainda está por ser corrigido.
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